Davi Ramos

2012 é Cuiuda Braba

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crítica publicada 01/12/2009, jornal A Tarde

Quem paga pra ver um filme de Roland Emmerich não deve reclamar de explosões em cadeia, cenas de destruição em escala global, diálogos rasos, explicações chulas para fenômenos cataclísmicos e infinitas variações da frase “você tem que ver isso”. A superficialidade é pre-requisito para o gênero catástrofe, que ativa em nós pulsões primitivas derivadas do medo (e do desejo) do fim. E quando se fala em destruição, Emmerich, que com Independence Day (1996) trouxe o filme-de-fim-do-mundo de volta à pauta dos grandes estúdios, tem muito a oferecer. Em 2004, após ressuscitar Godzilla, produziu seu filme mais sério e bem acabado — O Dia Depois de Amanhã. É desse saco de truques que o diretor tira imagens vertiginosas, como Los Angeles inteira tragada por uma enorme cratera, a queda do cristo Redentor (comemoremos: dessa vez eles lembraram de explodir o Brasil!) e a fuga desesperada de uma limusine preta pela cidade em queda livre, numa verdadeira orgia de efeitos especiais que, se não primam pela qualidade técnica, proporcionam um efeito-montanha-russa de respeito.

Com atuações que vão do competente ao ridículo, muitas vezes ficamos na dúvida se determinada cena deve ou não convocar o riso. O humor, longe de figurar apenas como alívio pontual, injeta elementos de sátira a filmes do gênero e do próprio Roland Emmerich. John Cusack se esforça, mas 2012 não tem espaço para um ator de personalidade. Exceção feita a Woody Harrelson, que consegue se destacar com papel pequeno e engraçadíssimo – um hippie velho fanático por conspirações. Mas a verdade é que, depois de ver meia terra explodir pelos ares, isso não faz muita diferença. A audiência está entregue, e responde com entusiasmo ao programa de atrações.

Ao contrário de Impacto Profundo e do próprio O Dia Depois de Amanhã, que buscaram elementos realísticos para almejar status de seriedade, 2012 parece mais à vontade entre as obras de ficção científica dos anos 50, produções que pouco se distanciaram da estética e puerilidade típicas das produções B da época. O filme de Emmerich guarda, inclusive, grande semelhança com O Fim do Mundo (When Worlds Collide, Rudolph Maté), de 1951. Há nos dois filmes o dilema moral para decidir quem merece um tíquete para Arca de Noé reloaded. Enquanto em 1951 os iluminados dirigentes da américa elegem os sobreviventes por sorteio, em 2009 é o poder financeiro que conta para ser salvo. Como se vê, o comentário sócio-político está presente, mas nada que comprometa o real propósito do filme: proporcionar duas horas do mais descerebrado, puro e saudável entretenimento. Um bom motivo para deixar aquela camisa do Che Guevara no armário e partir pro abraço.

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