2012 é Cuiuda Braba
Quem paga pra ver um filme de Roland Emmerich não deve reclamar de explosões em cadeia, cenas de destruição em escala global, diálogos rasos, explicações chulas para fenômenos cataclísmicos e infinitas variações da frase “você tem que ver isso”. A superficialidade é pre-requisito para o gênero catástrofe, que ativa em nós pulsões primitivas derivadas do medo (e do desejo) do fim. E quando se fala em destruição, Emmerich, que com Independence Day (1996) trouxe o filme-de-fim-do-mundo de volta à pauta dos grandes estúdios, tem muito a oferecer. Em 2004, após ressuscitar Godzilla, produziu seu filme mais sério e bem acabado — O Dia Depois de Amanhã. É desse saco de truques que o diretor tira imagens vertiginosas, como Los Angeles inteira tragada por uma enorme cratera, a queda do cristo Redentor (comemoremos: dessa vez eles lembraram de explodir o Brasil!) e a fuga desesperada de uma limusine preta pela cidade em queda livre, numa verdadeira orgia de efeitos especiais que, se não primam pela qualidade técnica, proporcionam um efeito-montanha-russa de respeito.
Com atuações que vão do competente ao ridículo, muitas vezes ficamos na dúvida se determinada cena deve ou não convocar o riso. O humor, longe de figurar apenas como alívio pontual, injeta elementos de sátira a filmes do gênero e do próprio Roland Emmerich. John Cusack se esforça, mas 2012 não tem espaço para um ator de personalidade. Exceção feita a Woody Harrelson, que consegue se destacar com papel pequeno e engraçadíssimo – um hippie velho fanático por conspirações. Mas a verdade é que, depois de ver meia terra explodir pelos ares, isso não faz muita diferença. A audiência está entregue, e responde com entusiasmo ao programa de atrações.
Ao contrário de Impacto Profundo e do próprio O Dia Depois de Amanhã, que buscaram elementos realísticos para almejar status de seriedade, 2012 parece mais à vontade entre as obras de ficção científica dos anos 50, produções que pouco se distanciaram da estética e puerilidade típicas das produções B da época. O filme de Emmerich guarda, inclusive, grande semelhança com O Fim do Mundo (When Worlds Collide, Rudolph Maté), de 1951. Há nos dois filmes o dilema moral para decidir quem merece um tíquete para Arca de Noé reloaded. Enquanto em 1951 os iluminados dirigentes da américa elegem os sobreviventes por sorteio, em 2009 é o poder financeiro que conta para ser salvo. Como se vê, o comentário sócio-político está presente, mas nada que comprometa o real propósito do filme: proporcionar duas horas do mais descerebrado, puro e saudável entretenimento. Um bom motivo para deixar aquela camisa do Che Guevara no armário e partir pro abraço.