Não tenho escrito tanto...
Sou da teoria de que não se deve escrever apaixonado. Acho que o escritor, quando tomado por esse frisson dos nervos, coração e (sobretudo) estômago, corre o risco de, de uma hora para a outra, achar que tudo é lindo demais, romântico demais, inspirado demais. A mente se torna permissiva ao clichê, ao cafona. É como se, de repente, todas as coisas mais bregas do Roberto Carlos começassem a fazer todo o sentido do mundo. Você fica melancólico com música do Amado Batista, se pega emocionado no meio de um arrocha, chora em comercial de cartão de crédito e por aí vai. Mas larguemos de frescura e escrevamos! A vida é feita de desafios. Ao texto, portanto.
Note, caro leitor, que magnífica artimanha: enrolei-o por um parágrafo e de repente seus olhos já estão aqui, vencendo as linhas e imaginando de que diabos eu quero falar. Mas sejamos francos – essa artimanha não fui eu quem inventou. Estou escrevendo um texto sobre um texto. Lembra do menino que tinha que escrever uma redação e resolveu escrever uma história cretina sobre um menino que tinha que escrever uma redação? Pois é, existe um menino desses em cada sala de aula que se preze e, se ele não tomou um devido zero na caderneta no momento certo, um dia ele vai fazer um blog e escrever um texto cretino sobre fazer um texto para o blog.
Mas então. Segunda de noite, estou eu aqui sentado em minha inércia mental, pesquisando duas mil coisas inúteis e umas doze úteis, quando vejo uma tão doce solicitação em meu recanto bloguístico, que de tal modo me comove que me faz abrir este processador de texto e espancar o teclado com inspirações metalingüísticas. Foda-se a inspiração! Escreverei pelo puro prazer de mover minhas mãos sobre o teclado. Mas (peraí). Eu já escrevi. Uma crônica (?) metalingüística que fala um bocado, mas no fundo, no fundo, não fala de nada. Eu devia ser preso por isso. Até mais ver. Obrigado pela atenção.