Davi Ramos

Intão você escreve

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Paranoiac Visage, Salvador Dali

No seminário flutuante não há quem seja errado até que se faz pecado de determinar, vida toda de segunda-feira não vale nada se você inda não tomou Nescau sem açúcar, coisa de macho mesmo, história de pedir queijo estragado e mastigar com gosto de lição destroçada sem contar a ninguém, bolor descendo a garganta até bater o estômago e a fome chega ao fim justo no tudo errado de quem anda, come, acorda e dorme direito, na mesma merda descamisada de sempre, inventando motivo pra ficá triste antes que venha algo de bom e aconteça.

E quem sabe hoje os cachorros passeiem seus donos, os mendigos ignorem os ricos da janela fumê de seus Tucsons monstruosos e os motoristas resolvam parar na faixa. Tudo pode enquanto você não abriu a janela do quarto. Talvez o mar tenha sumido e virado um estacionamento de trailer americano com gente fritando linguiça em fogãozinho. Ou quem sabe o tempo não passou at all, doze horas de sono os trinta minutos mais longos da história.

Intão você acorda dum sono pesado de ilembrável que prefere inventar história, cara de tristeza no covarde, distraído disso aí, querendo falar verdade e a boca sempre fechando, os dente apodrecendo por falta de uso, o músculo da língua enrolando pra morrer no medo absurdo de falar e desdizer.

Intão você escreve.

Publicação original.

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