Davi Ramos

Pode falar, meu bem

— Pode falar, meu bem. Eu vou entender.

— Mas amor, não tem nada pra falar.

— Não adianta mais me enganar. Agora o importante é que você seja honesto. Seja o que for a gente resolve. Você sabe que pode me falar qualquer coisa, né?

— Mas meu bem, eu acho que você não vai entender.

— O quê é que eu não vou entender, Roberto Carlos? Conta, meu amor. Vâmo deixar isso pra trás, começar do zero.

— Tá bom amor, eu vou contar. Promete que não vai ficar chateada?

— Prometo, amor. Pode falar sem medo.

— A verdade...

— Sim, morzinho, pode dizer.

— A verdade, meu bem, é que eu nunca te traí. Eu nunca nem olhei pra outra mulher. Meu coração é todo seu, desde a primeira vez que a vi.

— E cê quer que eu acredite? Hein, canalha? Hein, safado?

Ela fala isto com um sorriso.

— É verdade, amor. A mais pura verdade.

— Primeiro ano de namoro, a Claudinha, minha amiga, gostosona, coxão, peitão, bundão, dava o maior mole pra você e nada?

— Não vou mentir, a gente chegou a tentar... mas na hora eu pensei em você, esse seu rostinho lindo, o jeito que cê olha pra mim... não deu.

— Tu brochou, Roberto Carlos?

— Ah bem...

— Responde, Roberto Carlos!

— Ai, amor... brochada de amor não conta.

— E Costa do Sauípe, Jorge? Cês dividiram quarto e mesmo assim, nada?

— A gente jogou gamão e falou de você a noite toda.

— E você quer que eu acredite nisso?

— É verdade amor, a mais pura verdade

— Verdade o quê? Que meu marido é um banana? Um rola murcha?

— Não fala assim, amor...

— Falo sim. Nunca pensei que tinha casado com engole espada. Bem que mamãe avisou...

— Que é que sua mãe tem a ver com isso?

— Ela ficou desconfiada quando cê não quis comer a stripper na despedida de solteiro...

— Como é que ela sabe disso?

— Foi ela que contratou a puta, Roberto Carlos! Meu deus, que vergonha... que nojo.

Roberto Carlos tenta beijá-la.

— Sai, Roberto Carlos! Tira essa boca de pica daqui

— Meu bem, que é isso, eu só tenho olhos pra você!

— Exatamente! Imagina só a vergonha, todo mundo olhando pra mim com cara de pena, pensando “Coitada da Sueli, casou com cheira cú...”

Roberto Carlos respira fundo.

— Meu bem, tá legal. Você me convenceu. A verdade é que eu comi a Claudinha, sim. E depois dela a Gabriela, a Marina e a Samanta – essa última ontem mesmo, aqui na cama da gente.

— Tá falando isso pra me agradar, né?

— Não, bem. Verdade.

— Hum, sei.

Sueli sorri de leve.

— Aqui mesmo, foi?

— Foi. De quatro, a cara dela tava enfiada aí onde você tá sentada.

— Tipo assim?

Ela faz a posição.

— É, assim mesmo.

— E ela gozou gostoso?

— Gozou gostoso comigo lá dentro.

— Sem camisinha?- Sem camisinha.

— É, né? Safado.

— É, bem. Bem safado. Bem gostoso.

— É, cafajeste?

— É...

— É, calhorda?!

— É, sem vergonha?! Nojento! Infame! Cachorro sacripanta! Desgraçado!

— Amor?

— Vagabundo! Salafrário! Pulha! Patife! Cão! Coisa ruim!

Roberto Carlos se levanta e vai até a sala. Sueli o segue.

— Mentiroso! Covarde! Ingrato! Filho da puta! Fã do Michel do Teló!

Roberto Carlos vai embora. Sueli encosta as costas na porta, sorri e desliza lentamente até o chão.

Publicação original.

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