Sem inspiração para títulos
Percebi o quanto odeio esse burguesismo cordial, o quanto desprezo esses papéis que precisamos vestir quando vamos a certos lugares “aconchegantes e de bom gosto” que parecem saídos da Casa Cláudia. De repente me toquei – eu não pertenço a esses lugares. É interessante observar como todos ali estão, de alguma forma, representando um papel. Claro que, em todos os lugares, de alguma forma estamos representando, agindo dentro de uma convenção social que nos torna participantes enquanto estereótipos aceitáveis. O que me incomoda mesmo é a seriedade que certos ambientes carregam, como se ao entrar devêssemos nos despir de todas as outras máscaras e colocar no rosto uma máscara comum, padronizada. De repente somos as pessoas mais educadas e polidas do mundo. De uma hora para outra não falamos palavrão e tratamos de coisas sérias, assuntos importantes, temas. Vestimos a capa da adultice e esquecemos o motivo de estarmos ali.
De repente aqueles caras estão ali sentadinhos, tendo que chamar o garçom, fazer os pedidos. Quando as namoradas saem eles falam de temas "proibidos", enquanto elas devem ter também lá sua cota de "malvadezas" para pôr em dia. Parece coisa de filme, mesmo. No meu segundo palavrão, notei que não estava agradando. O que me levou a uma nova resolução - não vou mais a lugares que não aceitem palavrões.
Nada contra ninguém - até porquê eu acabo me comportando no mesmo esqueminha também. Sem hipocrisia. Mas se tem uma coisa que eu gosto é de ser irreverente, palhaço. Não sinto necessidade de sentar numa mesa de bar e dar um relatório de meus talentos. Sempre falo (e acho que é verdade) – que deve ter muita gente que me acha um perfeito idiota. Não me importo em falar bobagem, não me importo em rir de bobagem, não me importo em falar palavrão e, acima de tudo, para mim o supremo prazer de estar em qualquer lugar é dividir com meus convivas a minha completa e bem humorada inadeqüação a ele. Se vou no banco, vou fazer piada com a fila. Se vou num restaurante, posso passar a noite toda achando graça da seriedade como todo mundo encara aquele lugar. Para mim é um prazer supremo agir com desleixo calculado em situações assim, como se eu tivesse descoberto que tudo ali não passa de uma grande brincadeira social (e eu acho que é mesmo).
Mas falando sério, mil vezes o boteco do seu Zé, mil vezes um acarajé com coca-cola em cadeira plástica, mil vezes comer cachorro quente tomando cerveja no posto! Se virar adulto é largar tudo isso, se para crescer eu preciso andar por aí com essa capa de respeitabilidade elitista, então a maturidade que me perdoe, mas fico por aqui. Abraços.